Em Londres,
na década de 60, Jenny (Carey Mulligan) divide seu tempo entre os estudos
secundários, a pressão dos pais para ingressar em uma boa universidade e sua
paixão pela música. Ao conhecer David (Peter Sarsgaard), um homem sedutor que
tem os mesmos gostos que ela, Jenny deixa se levar pelo amor e recebe uma lição
pouco convencional sobre a vida.
No filme
“Educação”, de Lone Scherfig, vimos as primeiras experiências de uma jovem de
16 anos ao conhecer uma parte da vida além dos muros de sua casa e da escola.
Conhecer um homem mais velho, mais experiente e que foge dos padrões sociais
burgueses daquela época; experimentar o cigarro, roupas, maquiagem e penteados
de mulheres ousadas; ter a sua primeira experiência sexual; ir a night clubes; tudo isso parecia o modelo
de liberdade ideal para aquela jovem.
Os conflitos
se iniciam quando Jenny, ao ser confrontada pelos seus cuidadores (os seus
pais, uma de suas professoras e a diretora da escola), opinam com o discurso,
aparentemente repressor, a respeito do estilo de vida levado pela garota, que
fugia cada vez mais dos padrões impostos pelas instituições sociais (família e
escola, por exemplo) à época.
Os discursos
do ideal, principalmente dentro da escola conservadora, e de uma de suas
professoras, são muito marcantes quando tentam incutir em Jenny o seu desvio de
conduta e afastamento do sonho de ingressar na universidade.
Jenny, por
sua vez, vai deixando cada vez mais explícito que o seu ideal de vida,
encontrado em David, satisfaz os seus desejos e a torna uma mulher libertária.
Isso fica muito claro em algumas cenas que mostram a jovem afirmando querer
viver em Paris, usar roupas pretas, fumar, usar perfumes channel, passear de carro esporte e frequentar leilões.
O mesmo
processo discursivo é encontrado no filme “O Sorriso de Mona Lisa”, dirigido
por Mike Newell, que tem como personagem principal a nova professora de artes, Katherine
Watson (Julia Roberts), de uma escola feminina e conservadora da década de 50,
nos Estados Unidos.
A professora
solteira, libertária, traz os seus pontos de vista, baseados em suas
experiências de vida, para um ambiente conservador, cuja finalidade era formar
mulheres ideais para o lar, como donas de casa, esposas e mães equilibradas na
etiqueta e bons modos sociais.
Os conflitos
se iniciam quando as alunas, “engessadas” pela cultura da época, enfrentam os
discursos oponentes da professora ao incentivá-las a sonhar ingressar em boas
universidades, contrapondo o padrão de vida de dona de casa e esposa ideal.
Em ambos os
filmes, as situações reais da vida se apresentam às jovens estudantes, quando
descobrem que os homens, escolhidos para ser seus, não eram exclusivos.
Descobrir as traições, a existência de amantes, ou outras famílias, parece por
em xeque dois discursos: o das professoras que as incentivavam escolher
ingressar em universidades, uma vez que ainda não era algo tão comum para
mulheres à época; e o discurso do conservadorismo burguês das instituições
sociais.
A grande
questão que aparece nas duas obras é a visão de ideal do outro. Até onde é
perigoso, ou sábio, seguir o ponto de vista do outro? Os enfrentamentos
daqueles que se dizem conservadores diante dos libertários são uma forma de
proteção? Se sim, quem se protege de quê, e de quem? Viver protegidos sob o
ideal do outro forma a nossa identidade e subjetividade?
Parece que o
sistema de vida é o resultado da mescla dos discursos oponentes: o que se diz
conservador, protetor e ideal aos padrões; e o discurso que se diz aberto,
alternativo e livre. No entanto, tudo depende do ponto de vista. Ou não! Quem
sabe?