quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Quando eu crescer, quero ter uma papelaria




            Com tantas informações que circulam nas redes sociais, em termos de frases, vídeos ou imagens, fica até difícil pararmos para admirar com afinco e atenção algo pontual. Mas foi exatamente isto que me aconteceu, quando vi uma postagem que dizia “quando crescer, quero ter uma papelaria”. Era apenas mais uma imagem que objetivava a diversão dos seguidores. Não correspondia a uma criança ingênua, cujos sonhos não haviam amadurecido. Estava lá a expressiva imagem e me pus a pensar.
            No sistema em que vivemos, cujas expressões-chave são “ter”, “produzir”, “concorrer”, “crescer”, “poupar”, “publicar”, “se destacar”, “ser o melhor”, dentre várias outras desse mesmo campo de sentido, não sobra muito espaço e tempo para algum indivíduo pensar “ser alguém melhor” para os outros menos favorecidos, para a família, para os filhos, amigos, meio ambiente, animais etc.
             No tocante à expressão “ter”, raramente encontraremos um sobrevivente a esse sistema que queira adquirir o mínimo possível, sem grandes anseios, concorrências, enfrentamentos e adoecimentos. Menos ainda podemos achar quem queira “ser” menos.
            Mais assustador, ainda, é perceber que muitos de nós não temos expectativas próprias. Normalmente são baseadas nos desejos alheios: ser o que o meu pai quer, o que a minha mãe pediu, ter aquilo que me destaca e me faz ser aceito.  Se assim não for, quem somos nós?
Há aqueles que não têm os outros para quem corresponder às expectativas. Há quem os têm, mas não correspondem. E há os sem expectativas.

Quem de nós quer “ter uma papelaria quando crescer”?   

Nenhum comentário:

Postar um comentário