Com tantas
informações que circulam nas redes sociais, em termos de frases, vídeos ou
imagens, fica até difícil pararmos para admirar com afinco e atenção algo
pontual. Mas foi exatamente isto que me aconteceu, quando vi uma postagem que
dizia “quando crescer, quero ter uma papelaria”. Era apenas mais uma imagem que
objetivava a diversão dos seguidores. Não correspondia a uma criança ingênua,
cujos sonhos não haviam amadurecido. Estava lá a expressiva imagem e me pus a
pensar.
No sistema em que
vivemos, cujas expressões-chave são “ter”, “produzir”, “concorrer”, “crescer”,
“poupar”, “publicar”, “se destacar”, “ser o melhor”, dentre várias outras desse
mesmo campo de sentido, não sobra muito espaço e tempo para algum indivíduo
pensar “ser alguém melhor” para os outros menos favorecidos, para a família,
para os filhos, amigos, meio ambiente, animais etc.
No tocante à expressão “ter”, raramente
encontraremos um sobrevivente a esse sistema que queira adquirir o mínimo
possível, sem grandes anseios, concorrências, enfrentamentos e adoecimentos.
Menos ainda podemos achar quem queira “ser” menos.
Mais assustador,
ainda, é perceber que muitos de nós não temos expectativas próprias.
Normalmente são baseadas nos desejos alheios: ser o que o meu pai quer, o que a
minha mãe pediu, ter aquilo que me destaca e me faz ser aceito. Se assim não for, quem somos nós?
Há aqueles que não têm os outros para quem corresponder
às expectativas. Há quem os têm, mas não correspondem. E há os sem
expectativas.
Quem de nós quer “ter uma papelaria quando
crescer”?
Nenhum comentário:
Postar um comentário