Acompanhei uma
amiga a uma instituição religiosa onde não havia entrado antes. Ela insistiu
como uma forma de retribuição por ter aceitado um convite meu anterior. Amigos
são assim mesmo. Vivem nesses acordos e desacordos!
Durante
o desenrolar das práticas daquele lugar um homem, aparentemente bêbado,
aparentemente insano, quiçá os dois, entrou naquele lugar e perambulou cada
lado, cada extremidade como quem admirava a distribuição das pessoas nos
bancos, o líder que anunciava o seu sermão e os objetos que caracterizavam
aquela identidade.
De
imediato os “fiéis” perderam a concentração, assim como o anunciador das
palavras, pois aquele homem cheio de liberdades andava, olhava e parava com as
mãos na cintura diante da plateia. Parecia estranhar todo aquele ritual e os
rostos por ele conhecidos na cidade. Todos ali naquele lugar com muita ordem e decência.
Dois
pensamentos me vieram à mente: o mais sóbrio ali parecia ser exatamente aquele
homem; e em segundo lugar: ele poderia ser o mais necessitado de todos.
Pensei
que ele pudesse ser o mais sóbrio, porque era o único que não seguia aqueles modelos
e tradições oferecidos pelo perfil daquele ambiente. Observei cautelosamente
que todos os homens, mulheres e crianças ali presentes repetiam mecanicamente o
que decorria naquela prática. Aquele homem diferente fazia o contrário. Andava,
abria os braços, observava, estendia as mãos para o altar, colocava as mãos na
cintura, mas não repetia nada feito pela congregação. Ele só poderia estar lúcido
ao olhar para o alto, para o altar e pensar: será que sou o único a me sentir à
vontade na presença daquele que dizem ser o Deus deste lugar?
O
meu segundo pensamento foi tomado por uma estranheza no íntimo ao imaginar que
aquele sujeito poderia ser o mais necessitado naquele momento. Ninguém o
cumprimentou, ou o olhou a não ser por deboche, ou por achar engraçada a
presença daquele ser perambulante.
Quem estranhava quem ali? Quem precisava mais
de quê? Quem estava sendo ridículo? E de quem a sobriedade caminhava ao lado?
Imagem retirada de: http://tuporem.org.br/como-o-pensamento-critico-salva-a-fe/
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