terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O mais sóbrio




Acompanhei uma amiga a uma instituição religiosa onde não havia entrado antes. Ela insistiu como uma forma de retribuição por ter aceitado um convite meu anterior. Amigos são assim mesmo. Vivem nesses acordos e desacordos!
Durante o desenrolar das práticas daquele lugar um homem, aparentemente bêbado, aparentemente insano, quiçá os dois, entrou naquele lugar e perambulou cada lado, cada extremidade como quem admirava a distribuição das pessoas nos bancos, o líder que anunciava o seu sermão e os objetos que caracterizavam aquela identidade.
            De imediato os “fiéis” perderam a concentração, assim como o anunciador das palavras, pois aquele homem cheio de liberdades andava, olhava e parava com as mãos na cintura diante da plateia. Parecia estranhar todo aquele ritual e os rostos por ele conhecidos na cidade. Todos ali naquele lugar com muita ordem e decência.
            Dois pensamentos me vieram à mente: o mais sóbrio ali parecia ser exatamente aquele homem; e em segundo lugar: ele poderia ser o mais necessitado de todos.
            Pensei que ele pudesse ser o mais sóbrio, porque era o único que não seguia aqueles modelos e tradições oferecidos pelo perfil daquele ambiente. Observei cautelosamente que todos os homens, mulheres e crianças ali presentes repetiam mecanicamente o que decorria naquela prática. Aquele homem diferente fazia o contrário. Andava, abria os braços, observava, estendia as mãos para o altar, colocava as mãos na cintura, mas não repetia nada feito pela congregação. Ele só poderia estar lúcido ao olhar para o alto, para o altar e pensar: será que sou o único a me sentir à vontade na presença daquele que dizem ser o Deus deste lugar?
            O meu segundo pensamento foi tomado por uma estranheza no íntimo ao imaginar que aquele sujeito poderia ser o mais necessitado naquele momento. Ninguém o cumprimentou, ou o olhou a não ser por deboche, ou por achar engraçada a presença daquele ser perambulante.

             Quem estranhava quem ali? Quem precisava mais de quê? Quem estava sendo ridículo? E de quem a sobriedade caminhava ao lado?

Imagem retirada de: http://tuporem.org.br/como-o-pensamento-critico-salva-a-fe/

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