segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Alma erótica




Engraçado que, quando ouvimos falar a respeito de erotismo achamos que o sexo está ali exposto, a cobiça, ou a nudez, a pornografia, o pecado, o vício, o erro, o feio, o absurdo.
Na semana em que a poetisa, professora e filósofa brasileira Adélia Prado, nascida em Divinópolis (MG) completa 80 anos de idade, leio um dos seus textos que me marcou bastante: Erótica é a alma! O texto curto e poético mostra a inevitável ação do envelhecer e as suas consequências: “as pernas irão pesar, a coluna doer, o colesterol aumentar. A imagem no espelho irá se alterar gradativamente e perderemos estatura, lábios e cabelos”.
No entanto, segundo a autora, poderemos passar por tudo isso com muito humor renovando a mobília do nosso interior. Fantástico isso! Normalmente, a nossa tendência é guardarmos “móveis” velhos, usados, mofados e em desuso no nosso interior. Acúmulo de mágoas, rancores, comparações, preconceitos e julgamentos.
Que peso!
O erotismo da alma está no contrário. Não no sentido lascivo, sexual, como dicionarizado. Mas no sentido do desejo pela aceitação, do anseio pela liberdade das cruzes carregadas por tanto tempo. “Erótica é a alma que se diverte, que se perdoa, que ri de si mesma e faz as pazes com sua história...  Erótica é a alma que aceita a passagem do tempo com leveza e conserva o bom humor apesar dos vincos em torno dos olhos e o código de barras acima dos lábios. Erótica é a alma que não esconde seus defeitos, que não se culpa pela passagem do tempo. Erótica é a alma que aceita suas dores, atravessa seu deserto e ama sem pudores”.
Não posso deixar de mencionar a performance de Zélia Duncan para a canção “Alma”, composta por Arnaldo Antunes e Pepeu Gomes, veiculada no álbum de Zélia chamado “Sortimento”, de 2001. Um jogo de cores leves, melodia simpática e a junção da natureza para interpretar a epiderme, o toque, o descobrimento da alma leve, liberta e erótica.

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