Neste domingo decidi ficar em casa deitado na
rede, ouvindo músicas e lendo. Um tempo para mim. Fiz um café puro, sem açúcar
e olhei para a expressão de Elis Regina na capa da Revista Bravo: retrato do
artista, organizada por Claudia Giudice e veiculada pela Editora Abril em 2009.
Fiquei me questionando como estarrecido por uma espécie de epifania o porquê
dessa expressão.
Fui pesquisar, como bom curioso, o contexto
do qual surgiu a imagem e descobri que, em 1975, Elis Regina estreou uma
temporada solo intitulada Falso Brilhante, com o objetivo de contar sua
história, vida e carreira, sem deixar de lado as críticas à ditadura militar
brasileira; o show obteve tanto sucesso que teve mais de 1200 apresentações e
ficou em cartaz entre o final de 1975 e o início de 1977. Foi uma dessas
aparições a oportunidade perfeita na qual a língua dela foi vista.
Para muitos de nós, estirar a língua pode ser
sinônimo de má educação, falta de respeito, provocação, e, no caso de Elis, sua
sempre demonstração de alegria por ser a Pimentinha da mídia. Considero a
atitude da artista algo muito belo. Não por ser ela, a artista, mas por não
demonstrar um comportamento “adequado” para a mídia à época, talvez.
Direcionando a minha xícara de café à boca, e
admirando a capa da revista, me pus a pensar: por que não “estirar a língua”
para determinados fatos, posicionamentos ou até mesmo pessoas a quem temos dado
o “poder” de nos desassossegar? Criamos muitos fantasmas em nossas relações
cotidianas e, se isso não bastasse, ainda convidamos esses ghosts a morar conosco, deitar em nossa rede, na nossa cama, tomar
banho em nossa suíte e até tomar café em nossa xícara predileta. Com um pouco
mais de distração, permitimos que usem nossas roupas íntimas, nossas meias,
calcem nossos sapatos ou até mesmo façam um delicioso prato gourmet para o almoço e nos convide para
degustá-lo.
Mas o que seria de nós sem eles? Não teríamos
para quem “estirar a língua” e tomar de volta o que nos pertence. Que monotonia
não os ter por perto! Se escrevo este texto, algo ou alguém (mesmo
fantasmagórico) trouxe-me motivação.
Elis, obrigado por sua língua!
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