Após um bom tempo,
ouvi novamente na rádio a canção “Reza”, composta por Rita Lee e Roberto de
Carvalho. De melodia leve, nada deprimente, a letra se torna simpática pelo
jogo de verbos e substantivos que formulam a guerra que o “eu” da canção enfrenta
ao desejar ser livre do “outro”, mas ao mesmo tempo querer o contrário.
O pedido para que Deus proteja, defenda,
salve, ajude, imunize, poupe da inveja, macumba, praga, raiva e do veneno do
destinatário desse jogo melódico me causou um questionamento.
Já parou para
pensar quantas vezes somos os corretos, mais experientes e bem resolvidos, em
detrimento à pequenez e ao erro de um segundo, ou um terceiro? Se um
relacionamento não deu certo, a culpa não é nossa. Uma amizade azeda parte do
limão alheio. O louco está lá, não aqui. O espelho só nos serve para pentearmos
os nossos cabelos (para quem ainda os tem) e mostrarmos diante daqueles que não
se enxergam. Não nos enxergamos, em quase todo tempo.
Nos períodos,
quando comemoramos o final de mais um ciclo, e o início de um novo, a tendência
é apostarmos em mudanças. Listas com tópicos das tomadas de decisão por uma
dieta e um corpo melhor, por um curso, outro emprego, entrar em um
relacionamento, ou optar pela solteirice, ter um encontro espiritual, pintar a
casa, adquirir novas roupas, ler mais e ganhar mais dinheiro normalmente estão
em destaque.
Em contrapartida,
decidir julgar menos, ser mais atencioso, cuidar mais de alguém, dar mais
carinho em vez de presentes, falar palavras que borbulham as boas sensações do
ego durante o dia inteiro, ser menos agressivo, perdoar, se doar, olhar com
ternura para, seja lá quem for, como uma pessoa que também tem seus sentimentos
e emoções dificilmente estão nas nossas listas.
De quem é a "macumba", então?
Feliz recomeço para nós!